O N.M.T. Creoula (atracado na ria de Aveiro no Porto de Pesca do Largo)

 

O Navio de Treino de Mar (N.M.T.) Creoula é um dos poucos antigos navios bacalhoeiros portugueses que ainda navegam nos grandes oceanos. O lugre Creoula foi um dos primeiros navios construídos pelos Estaleiros Navais de Lisboa (CUF), tendo a sua construção sido efectuada em tempo "recorde" (62 dias úteis). Lançado à água em Março de 1937, viria a ser entregue ao armador, Parceria Geral de Pescarias, em 12 de Maio seguinte, realizando até 1973, 37 campanhas de pesca do bacalhau na Terra Nova. 

Todo o interior do navio era revestido a madeira de boa qualidade e o porão calafetado para evitar o contacto da moura com o ferro. 

O mastro de vante (traquete) servia de chaminé à caldeira e ao fogão de carvão, fogão este que se encontra hoje no museu marítimo de Ílhavo.

    O seu casco, pintado de branco, permitia uma melhor percepção no nevoeiro, facilitando assim uma melhor orientação dos pescadores a bordo dos dóris, pois esses mesmos  dóris eram arriados no meio das águas geladas do oceano e só muitas horas depois os pescadores regressavam ao barco materno, com os pequenos botes de madeira carregados de peixe.
Isto, se tudo corresse bem, pois quantos pescadores não tiveram de suportar uma vaga mais alterosa ou uma tempestade súbita?

    Numa viagem de pesca normal , o Creoula navegava com 54 pescadores, 10 moços de convés, 2 cozinheiros, 3 oficiais de máquinas, 2 oficiais de ponte e capitão. Nos 54 pescadores estavam incluídos 9 marinheiros e um contramestre que acumulavam as suas funções com as da pesca.

o navio possuía mastaréus, retrancas e caranguejas em madeira. O gurupés, conhecido como "pau da bujarrona", que também era em madeira, deixou de existir em 1959, passando o navio a dispor apenas de duas velas de proa: giba e polaca. As velas que agora são em dacron, material sintético mais leve e mais resistente, eram na altura feitas de lona de algodão, possuindo o navio duas andainas de pano, que eram manufacturadas pelos próprios marinheiros de bordo. Cada andaina era composta por: giba, bujarrona, polaca, traquete, contra-traquete, grande e mezena, mais três estênsulas como gavetopes de entremastros, e um pendão redondo de içar no mastro do traquete. Além deste pano havia dois triângulos de tempo para envergar no mastro da mezena. O pano latino era feito com lona de algodão nº 2, o velacho (redondo) com lona de algodão nº 4 e as extênsulas com algodão nº 7, o mais resistente. As tralhas das velas eram em cabo de manila. Quanto ao aparelho fixo, esse sempre foi em aço, mas o de laborar era outrora em sizal.

O espaço que medeia hoje entre a zona da cobertura de vante (coberta das praças) e a casa da máquina, era na época o porão do peixe e em cujos duplos fundos se fazia a aguada do navio. O navio estava assim dividido em três grandes secções por duas anteparas estanques que delimitavam, a vante e a ré, o porão do peixe. A vante do porão ficavam os alojamentos dos pescadores, o paiol de mantimentos e as câmaras frigoríficas para o isco; a ré, os alojamentos dos oficiais, a casa da máquina, os tanques do combustível, o paiol do pano e aprestos de pesca. tinha ainda nos delgados de vante e de ré vários piques utilizados como reserva de aguada, armazenamento de óleo de fígado, carvão de pedra para o fogão e óleos lubrificantes.

Num ano de boa pesca o Creoula podia carregar 12.800 quintais de peixe verde (salgado), o que equivale a cerca de 800 toneladas, bem como cerca de 60 toneladas de óleo de fígado de bacalhau, que vinha armazenado no pique tanque de proa.

Em 1976, a Secretaria de Estado das Pescas, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, decidiu adquiri-lo, o que viria a ter lugar em 1980, para a instalação de um museu. Uma vez constatado o seu ainda bom estado, foi decidido recuperar o Creoula e transformá-lo em navio de treino de mar, para o que foi necessário transformar o porão de peixe em coberta para 60 instruendos, ampliar a enfermaria e a capacidade de aguada, instalar um refeitório, aumentar as instalações sanitárias, alterar o lastro e substituir a madeira por aço nos mastros. Em 1 de Junho de 1987 e de acordo com um despacho, o Creoula foi formalmente entregue ao Ministério da Defesa Nacional, passando a ser designado como Unidade Auxiliar de Marinha (UAM 201) e classificado como "navio de treino de mar".

Características da embarcação

Tipo Lugre de 4 mastros
Comprimento de fora a fora 67,365 m
Comprimento entre perependiculares 52,765 m
Boca 9,9 m
Pontal 5,94 m
Altura dos mastros 36,0 m
Deslocamento leve 894 ton.
Deslocamento máximo 1300 ton.
Calado 4,7 m
Aguada 146 ton.
Combustível (gasóleo) 60 ton.
Motor principal MTU / 8 cilindros
Potência 500 cv

 

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Página mantida e Fotografia de autoria de Miguel Lacerda